"A alguns meses atrás, Fernando Curto da ANBP dava uma entrevista para a TSF em que dizia:
«Há algumas situações que têm de ser rectificadas», sobretudo na «coordenação e no comando intermédio das forças no terreno», quer seja na mobilização de meios humanos quer seja na mobilização de meios materiais, disse à TSF Fernando Curto.
Além disso, identificou, falta «logística e planeamento, o que inviabiliza a interligação entre os comandantes operacionais municipais, distritais e o nacional». Também não ajuda o facto de algumas câmaras ainda não terem nomeado os comandantes municipais, como diz a lei, acrescentou.
Caro Fernando Curto, deixe-me dizer-lhe que cada vez mais lhe dou razão, permita-me até que lhe diga e sublinhe que estamos a correr seriamente para um problema grave de "excesso de gente a mandar".
Há muitos anos que, quem está nos incêndios florestais, reconhece que "existe demasiada gente a mandar e poucos a trabalhar", linguagem frequente dos incêndios e que espelha bem a realidade do que se passa um pouco por este Portugal de norte a sul.
Um atropelo de funções de chefia que sempre existiu entre quem comanda um incêndio, quem chefia e principalmente de quem executa. Ora como se ainda não bastasse ainda temos a somar CODIS e restante equipa e nos nossos essenciais camaradas Oficiais de Bombeiro.
Chegar a um posto de Comando e ver uma equipa de quase 30 homens composta por comandantes, oficiais, CODIS, chefes sub-chefes e o "diabo-a-sete" faz-nos pensar, tanta gente para pensar e tanta confusão?
A haver um COS e a ser o CODIS esse COS, deve e têm de delinear estratégias e por os comandantes no terreno perto das suas equipas a coordenar flancos e/ou sectores agarrando em toda a chefia e bombeiros voluntários para trabalharem no terreno, de frente para o problema que no fundo é o mesmo de sempre, o incêndio Florestal.
Ver chefes a mais não é nem nunca foi um problema porque esses "vergam a mola e puxam a mangueira se for preciso" agora com estas história dos Oficiais a crescer de "vento em poupa" leva-me a crer que dentro de dez anos não vai haver homens para conduzir viaturas e para executar as funções de extinção no incêndio.
A criação do quadro de Oficiais foi, na nossa opinião, muito desenquadrada à realidade dos corpos de Bombeiros voluntários levando a que cada vez mais se olhe para uma estatística de um incêndio e se veja que estão 150 homens no terreno, mas quem lá está sabe que, só 60% desses mesmos operacionais são braços de trabalho.
Compreendo que os CODIS comecem a ter uma certa dificuldade em agarrar em tanta gente e dar-lhes que fazer no que toca a funções de chefia, é que nem que o incêndio tenha quilómetros de frente vai ser difícil pedir opinião muitas vezes a ex-elementos dos quadros de especialistas (que nunca quiseram saber dos bombeiros) e muitas vezes ex-bombeiros de 3ª licenciados que pediram a passagem ao quadro de oficiais só para subirem mais rápido de estatuto.
É com todo o mérito que um licenciado em Engenharia Florestal deve fazer parte de uma estrutura de comando mas agora pergunto, um licenciado em Línguas ou em Ciências Desportivas detêm conhecimento para exercer funções de estrutura de comando e gestão de um incêndio florestal? Será o curso da carreira de oficial compatível também com anos de experiência no combate aos Incêndios? Juntado as duas coisas temos um oficial perfeito, mas se retirarmos a experiência temos o que?
Fico um bocado baralhado com este tipo de situações, em que existem mais pessoas a mandar (muitas vezes sem saber o que) do que por vezes a trabalhar.
2011 está ai e ainda continuamos a ver ocultação de meios humanos e materiais e até de teatros de operações na pagina da ANPC, interessa é a imagem que se passa.
2011 está ai, e a logística dos homens e mulheres de um teatro de operações de Incêndio Florestal continua a ser miserável, dando muitas vezes um bocado de água e um pão seco para pessoas que andam horas a trabalhar em condições duras. Valha-nos a população portuguesa que mesmo assim vai aparecendo e muitas vezes abrindo o seu frigorífico lá de casa para alimentar as "unhas de fome" de quem se desloca do seu concelho para ajudar o vizinho.
Se é oficial de Bombeiro e não se revê nestas palavras, os meus parabéns, está nessa posição para marcar a diferença. Aos que usam óculos de sol e estão nos incêndios florestais para fazer turismo, não venham, é que o povo não perdoa e ver casas em perigo e bens a serem perdidos convosco à sombra do posto de Comando dá um certo mau aspecto levando mesmo a pensar se vieram para os bombeiros para serem humanitários ou autoritários...
Os bombeiros estarão cada vez mais bonitos nos incêndios florestais, além da redução de meios haverá cada vez menos homens de farda suja do trabalho, os incêndios esses estarão a cargo da carreira do bombeiro voluntário, que enquanto existirem lá se vai fazendo o trabalho.
Alguém ridicularizava dizendo "quero voltar para ilha", nos bombeiros, diria mais "quero ir para Oficial", por isso, se não é licenciado espere mais um pouco, talvez se arranje um programa de novas oportunidades para o ensino superior."
Retirado do sitio: http://www.bombeirosparasempre.blogspot.com/